
Nesta sexta-feira, 3 de outubro de 2025, a Netflix lança a terceira temporada da antologia criminal Monstro, criada por Ryan Murphy e Ian Brennan. Depois das temporadas dedicadas a Jeffrey Dahmer e os Irmãos Menendez a série volta seu olhar para Ed Gein, o homem que chocou os Estados Unidos na década de 1950 e que, mais de seis décadas depois, segue influenciando o cinema de terror.
A vida real de Ed Gein

Edward Theodore Gein nasceu em 27 de agosto de 1906, em La Crosse County, Wisconsin. Filho de George Philip Gein e Augusta Wilhelmine Gein, era o segundo de dois irmãos, sendo Henry o mais velho. Cresceu em um ambiente familiar profundamente disfuncional: o pai era alcoólatra e a mãe, fervorosamente religiosa, exercia controle rígido e opressivo sobre os filhos, impondo visões extremas sobre moralidade e sexualidade.
A família vivia isolada em uma fazenda em Plainfield, Wisconsin. Após a morte do pai, em 1940, e posteriormente do irmão Henry, em 16 de maio de 1944, Ed permaneceu sozinho com a mãe.
A morte de Henry ocorreu durante um incêndio na propriedade. Oficialmente, a causa foi registrada como falha cardíaca, sem sinais de queimaduras no corpo. No entanto, foram encontrados hematomas em sua cabeça, e Ed conduziu a polícia diretamente até o corpo do irmão — fatos que geraram suspeitas, embora nunca tenha havido investigação formal ou acusação.
A morte da mãe, em 1945, marcou uma profunda mudança no comportamento de Gein. Vivendo em completo isolamento na fazenda, ele desenvolveu uma obsessão mórbida: passou a estudar anatomia humana, frequentar cemitérios e, eventualmente, a exumar corpos. Com os restos humanos, construía objetos macabros e mantinha partes dos cadáveres em sua residência. Essas atividades permaneceram ocultas até 1957, quando Gein foi preso e suas práticas horríveis foram descobertas pelas autoridades.
Os Crimes

Em 16 de novembro de 1957, a investigação do desaparecimento de Bernice Worden, proprietária de uma loja de ferragens local, levou as autoridades à propriedade de Gein. O que descobriram foi um cenário macabro: o corpo decapitado e eviscerado de Worden, além de evidências de que Gein havia exumado cadáveres de cemitérios locais e utilizado partes dos corpos para confeccionar objetos domésticos e vestimentas. Entre os itens encontrados estavam móveis forrados com pele humana, tigelas feitas de crânios, máscaras confeccionadas a partir de rostos humanos e outras peças grotescas.
Durante os interrogatórios, Gein confessou o assassinato de duas mulheres:
- Mary Hogan (8 de dezembro de 1954) — proprietária de um bar local, morta a tiros por Gein;
- Bernice Worden (16 de novembro de 1957) — dona da loja de ferragens, cujo desaparecimento levou à descoberta final dos crimes.

Inicialmente declarado inimputável por insanidade mental, Gein foi internado no Central State Hospital for the Criminally Insane. Em 1968, foi considerado apto a ser julgado e declarado culpado pelo assassinato de Bernice Worden, porém foi considerado legalmente insano e, portanto, encaminhado novamente para tratamento psiquiátrico. Foi então transferido para o Mendota Mental Health Institute, em Madison, Wisconsin, onde permaneceu pelo resto de sua vida.
Ed Gein faleceu em 26 de julho de 1984, aos 77 anos, devido a complicações respiratórias decorrentes de câncer de pulmão.
Impacto Cultural
Embora Ed Gein tenha sido condenado por apenas dois assassinatos, os detalhes perturbadores de seus crimes — especialmente a profanação de cadáveres e a fabricação de objetos com restos humanos — exerceram profunda influência sobre a cultura popular. Sua história ajudou a moldar arquétipos do assassino no imaginário do cinema, desde a psicose psicológica até o horror visceral, servindo de inspiração para personagens que se tornaram ícones do gênero terror ao longo de décadas.
Filmes Inspirados por Ed Gein
A seguir, obras cinematográficas e documentários que retratam diretamente Ed Gein ou apresentam personagens fortemente inspirados por seus crimes:
Psicose
Ano: 1960 — Direção: Alfred Hitchcock

Norman Bates, o excêntrico e solitário dono do Bates Motel, mantém uma relação perturbadora com a figura da mãe. Quando Marion Crane busca refúgio no motel, segredos sombrios vêm à tona em uma das obras mais influentes do suspense psicológico. O personagem Norman Bates foi inspirado nos aspectos da vida de Ed Gein, especialmente a fixação pela mãe e a preservação de cadáveres.
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O Massacre da Serra Elétrica
Ano: 1974 — Direção: Tobe Hooper

Um grupo de jovens viaja pelo interior do Texas e acaba nas mãos de uma família de psicopatas canibais. Entre os membros está Leatherface, que usa máscaras feitas de pele humana e uma motosserra como arma. O filme, visceral e brutal, incorpora elementos inspirados no caso Gein, sobretudo pela imagem das máscaras de pele humana e móveis feitos com partes de corpos.
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Confissões de um Necrófilo
Ano: 1974 — Direção: Jeff Gillen e Alan Ormsby

Uma das interpretações cinematográficas mais próximas da história real de Ed Gein. O filme acompanha Ezra Cobb (Roberts Blossom), um homem solitário que, após a morte da mãe, passa a desenterrar corpos para “manter companhia” e a fabricar objetos com restos humanos. Aborda de forma direta e perturbadora a degeneração psicológica do protagonista.
O Silêncio dos Inocentes
Ano: 1991 — Direção: Jonathan Demme

A jovem agente do FBI Clarice Starling busca a ajuda do brilhante canibal Hannibal Lecter para capturar Buffalo Bill, um assassino em série que sequestra mulheres e remove sua pele para confeccionar vestimentas. O personagem Buffalo Bill carrega elementos claramente inspirados nas práticas de Ed Gein, particularmente o uso de pele humana para criar trajes.
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Ed Gein
Ano: 2000 — Direção: Chuck Parello

Cinebiografia que dramatiza a vida de Ed Gein, desde a infância marcada pelo controle materno até os assassinatos e a subsequente prisão. O filme tenta mapear a trajetória psicológica que levou Gein aos atos que chocaram os Estados Unidos.
Ed Gein: The Butcher of Plainfield
Ano: 2007 — Direção: Michael Feifer

Versão sensacionalista da história de Ed Gein. O longa enfatiza o lado violento do caso e o transforma em um produto mais próximo do subgênero slasher, priorizando o impacto visceral sobre a precisão histórica.
Documentários
- Ed Gein: The Real Psycho (2004) – Documentário investigativo que relaciona os crimes de Gein a personagens icônicos do cinema de terror, reconstitui a investigação policial e apresenta imagens de arquivo e depoimentos de especialistas sobre o caso.
- The Real Texas Chainsaw Massacre (2003) – Documentário que explora os paralelos entre os crimes reais de Ed Gein e o clássico de Tobe Hooper, mostrando como elementos do caso foram transformados em iconografia do horror cinematográfico.
- Ed Gein: The Ghoul of Plainfield (2010) – Análise detalhada dos achados na fazenda de Gein, com entrevistas, reconstituições e discussões sobre o impacto duradouro do caso na cultura popular e no desenvolvimento do gênero terror.
Monster: A História de Ed Gein

Quase sete décadas após os crimes que chocaram Plainfield, Wisconsin, a Netflix lançou em 3 de outubro de 2025 a terceira temporada da série antológica Monster, criada por Ryan Murphy e Ian Brennan. Monster: A História de Ed Gein apresenta Charlie Hunnam no papel do assassino e Laurie Metcalf como Augusta, sua mãe.
A produção promete ir além da mera reconstituição dos fatos, investigando o contexto social e psicológico que cercou o caso e examinando como a ficção — cinema e televisão — se apropriou de sua narrativa ao longo das décadas. A série também incorpora a figura de Alfred Hitchcock (interpretado por Tom Hollander) durante a produção de Psycho, conectando diretamente os crimes reais ao nascimento do thriller psicológico moderno.
Como as temporadas anteriores da franquia Monster, a produção deve provocar debates sobre o limite entre a curiosidade pública legítima e a exploração sensacionalista do horror real.