
A ditadura militar no Brasil (1964–1985) deixou marcas profundas na política, na cultura e na arte do país. O cinema, como espelho da sociedade, tornou-se um poderoso instrumento para revisitar esse período de repressão, censura e resistência.
Com a estreia de “O Agente Secreto”, novo longa de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, o cinema brasileiro retoma com força o debate sobre o período mais sombrio de sua história recente. O lançamento vem na esteira do sucesso de “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025.
Filmes sobre a Ditadura Militar no Brasil
Confira abaixo a lista 10 dos melhores filmes sobre a ditadura militar no Brasil — Entre ficções, biografias e documentários — que abordam o tema da ditadura no nosso país. Cada título oferece uma perspectiva única sobre censura, resistência e memória.
10. Marighella (2019)
Direção: Wagner Moura

- Elenco: Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcelos, Humberto Carrão, Bella Camero, Jorge Paz, Adriana Esteves
- Importância: Um dos poucos filmes recentes a retratar a guerrilha urbana com vigor, despertando debates sobre herança da resistência.
- Sinopse: A estilista mineira Zuzu Angel enfrenta, na década de 1960, o desaparecimento e tortura do filho Stuart Angel nas mãos da ditadura militar e passa a lutar incansavelmente por justiça
- Onde Assistir: Globoplay
09. O Dia que Durou 21 Anos (2012)
Direção: Camilo Tavares

- Elenco: Auro de Moura Andrade, Robert Bentley, Júlio de Sá Bierrenbach, Newton Cruz, Bocayuva Cunha, Arthur da Costa e Silva
- Importância: Embora seja documentário, fornece contexto crucial ao ambiente histórico em que “O Agente Secreto” se insere. Ajuda a embasar a narrativa da ditadura em fatos reais de política internacional.
- Sinopse: Documentário que revela a influência dos EUA no golpe de 1964 no Brasil, com fitas da Casa-Branca e documentos da CIA.
- Onde Assistir: Apple TV
08. Que Bom Te Ver Viva (1989)
Direção: Lúcia Murat

- Elenco: Irene Ravache, Criméia Almeida, Estrela Bohadana, Maria do Carmo Brito, Jessie Jane, Maria Luiza Garcia Rosa
- Importância: Uma perspectiva de gênero e resistência feminina raramente abordada em filmes sobre a ditadura.
- Sinopse: Filme que retrata a situação de tortura e repressão enfrentada por mulheres que lutaram contra o regime militar.
- Onde Assistir: Reserva Imovision
07. Batismo de Sangue (2006)
Direção: Helvécio Ratton

- Elenco: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Odilon Esteves, Ângelo Antônio, Cássio Gabus Mendes, Jorge Emil
- Importância: Expõe a participação da Igreja nos movimentos de resistência, um aspecto pouco lembrado do período.
- Sinopse: Cinco frades dominicanos se engajam na guerrilha contra a ditadura militar nos anos 1960 no Brasil. Por apoiarem a luta armada, são considerados comunistas, presos e torturados.
- Onde Assistir: Looke
06. Zuzu Angel (2006)
Direção: Sérgio Rezende

- Elenco: Patricia Pillar, Daniel de Oliveira, Leandra Leal, Alexandre Borges, Luana Piovani, Aramis Trindade, Ângela Vieira, Flavio Bauraqui, Othon Bastos
- Importância: Ideal para tratar da “memória individual” durante a ditadura e do impacto sobre famílias..
- Sinopse: A estilista mineira Zuzu Angel enfrenta, na década de 1960, o desaparecimento e tortura do filho Stuart Angel nas mãos da ditadura militar e passa a lutar incansavelmente por justiça
- Onde Assistir: Apple TV
05. O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006)
Direção: Cao Hamburger

- Elenco: Michel Joelsas, Germano Haiut, Paulo Autran, Simone Spoladore, Caio Blat, Eduardo Moreira, Daniela Piepszyk
- Importância: Representou o Brasil no Oscar 2008 e é considerado um dos retratos mais humanos do período. Sensível e poderoso, o longa de Cao Hamburger equilibra a inocência infantil e o medo político com rara delicadeza
- Sinopse: A ditadura vista pelos olhos de uma criança. Ambientado em 1970, durante a Copa do Mundo, o filme acompanha Mauro, garoto deixado pelos pais militantes em São Paulo.
- Onde Assistir: Netflix
04. O Que É Isso, Companheiro? (1997)
Direção: Bruno Barreto

- Elenco: Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Alan Arkin, Matheus Nachtergaele, Eduardo Moscovis, Fernanda Montenegro, Othon Bastos
- Importância: Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme é marco da retração da ditadura no cinema nacional. Para entender a luta armada e os conflitos internos da esquerda nos anos de chumbo, com abordagem dramática e de fácil acesso.
- Sinopse: No fim dos anos 1960, após o AI-5, jovens militantes de esquerda enveredam pela luta armada; o jornalista Fernando e o amigo César planejam o sequestro do embaixador dos EUA no Brasil para negociar a libertação de presos políticos.
- Onde Assistir: Prime Vídeo
03. Pra Frente, Brasil (1982)
Direção: Roberto Farias

- Elenco: Reginaldo Faria, Antônio Fagundes, Elizabeth Savala, Claudio Marzo, Ivan Cândido, Expedito Barreira
- Importância: Um dos primeiros filmes a abordar diretamente o tema da repressão, lançado ainda durante o regime. O filme sofreu censura e boicote à época, mas hoje é lembrado como um ato de coragem cinematográfica, símbolo de denúncia e resistência.
- Sinopse: Em 1970 o Brasil inteiro torce e vibra com a seleção de futebol no México, enquanto prisioneiros políticos são torturados nos porões da ditadura militar e inocentes são vítimas desta violência.
- Onde Assistir: Atualmente não está disponível em nenhum serviço de streaming
02. Cabra Marcado para Morrer (1984)
Direção: Eduardo Coutinho

- Elenco: Eduardo Coutinho, Elizabeth Teixeira, Ferreira Gullar, Tite de Lemos
- Importância: O filme retrata com autenticidade a repressão no campo e as cicatrizes deixadas pelo regime.
- Sinopse: O documentário interrompido em 1964 por conta do golpe militar é retomado 17 anos depois, mostrando a vida dos camponeses perseguidos e o destino de Elizabeth Teixeira, viúva de um líder assassinado.
- Onde Assistir: CInema e Afins
Crítica: Cabra Marcado Para Morrer
01. Ainda Estou Aqui (2024)
Direção: Walter Salles

- Elenco: Fernanda Torres,Selton Mello, Valentina Herszage, Fernanda Montenegro, Marjorie Estiano, Maeve Jinkings, Humberto Carrão
- Importância: O filme trouxe o primeiro Oscar do Brasil, e emociona ao retratar a resistência feminina e o trauma familiar da repressão.
- Sinopse: Baseado livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, A história real de Eunice Paiva, mãe do escritor, que luta para encontrar o marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político durante o regime.
- Onde Assistir: GloboPlay
Ainda Estou Aqui: Tudo que você precisa saber sobre o filme
Por que falar sobre a ditadura militar brasileira?
Falar sobre a ditadura militar brasileira não é apenas revisitar o passado — é compreender como suas consequências ainda moldam a sociedade atual. Entre 1964 e 1985, o país viveu sob um regime autoritário que censurou artistas, perseguiu intelectuais e silenciou vozes dissidentes. Décadas depois, o tema ainda provoca desconforto, mas também desperta a necessidade de reflexão e de preservação da memória coletiva.
O cinema, como expressão cultural e política, tem papel fundamental nesse processo. Através da arte, é possível reconstruir histórias apagadas, humanizar números e dar rosto às vítimas da repressão. No entanto, o Brasil ainda produz poucos filmes sobre o período, especialmente se comparado a outros países da América Latina que também enfrentaram ditaduras, como Argentina e Chile — nações que transformaram suas feridas históricas em uma filmografia consistente e internacionalmente reconhecida.
Parte dessa escassez se deve ao próprio trauma deixado pelo regime e ao medo persistente de revisitar feridas abertas. Outra razão é a dificuldade de financiamento para obras com temática política, que muitas vezes enfrentam resistência de setores públicos e privados. Mesmo assim, cineastas como Eduardo Coutinho, Walter Salles, Sérgio Rezende e Kleber Mendonça Filho continuam a desafiar o silêncio, produzindo filmes que lembram o que muitos ainda prefeririam esquecer.
Ao abordar o tema com sensibilidade e coragem, o cinema brasileiro reafirma seu papel como instrumento de memória e resistência — mostrando que falar sobre a ditadura não é um exercício de nostalgia, mas um ato de responsabilidade histórica.