Muito antes de Boris Karloff imortalizar o monstro de Frankenstein nos anos 1930, o cinema já havia dado seus primeiros passos para adaptar o romance gótico de Mary Shelley. Em 1910, a produtora de Thomas Edison lançou uma versão curta do clássico literário, considerada o primeiro filme de Frankenstein e uma das primeiras obras de horror da história do cinema. Apesar de ter apenas cerca de 12 minutos de duração, essa produção silenciosa marcou o início de um gênero que se tornaria um dos mais populares e duradouros da sétima arte.
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A origem do filme
O filme intitulado simplesmente Frankenstein foi produzido pela Edison Manufacturing Company e dirigido por J. Searle Dawley. A adaptação foi realizada em uma época em que o cinema ainda buscava consolidar sua linguagem narrativa e visual.

Lançado em março de 1910, o curta foi filmado no estúdio de Bronx, Nova York, e tinha como objetivo explorar o potencial “científico e moral” da história, alinhado à filosofia de Thomas Edison de que o cinema deveria ser um instrumento educativo e moralizante.
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A obra era baseada livremente no romance de Shelley, publicado originalmente em 1818. No entanto, o roteiro simplificava bastante a trama original, transformando-a em uma espécie de parábola sobre o bem e o mal no coração humano. A famosa cena da criação do monstro, por exemplo, foi representada de forma alegórica e engenhosa: em vez de instrumentos elétricos ou relâmpagos, a criatura nasce de uma caldeira em processo reverso, resultado de uma combinação de efeitos especiais práticos que impressionam até hoje pela inventividade.
O elenco e a caracterização da criatura

O papel do Dr. Frankenstein foi interpretado por Augustus Phillips, enquanto o monstro foi vivido por Charles Ogle. O visual da criatura difere radicalmente da imagem consagrada por Karloff em 1931. Em vez dos parafusos no pescoço e da aparência cadavérica, o monstro de 1910 possui um semblante quase demoníaco, com uma peruca desgrenhada e roupas esfarrapadas, remetendo mais a uma figura mística do que científica.
A maquiagem e os truques de câmera, utilizados para sugerir a transformação e o nascimento da criatura, demonstram o espírito experimental da época. O efeito mais famoso — o nascimento do monstro a partir de um corpo em decomposição — foi obtido filmando a queima de um boneco em papel e, depois, reproduzindo o processo de trás para frente, criando a ilusão de uma criação “invertida”.
Perdido e reencontrado
Durante décadas, acreditou-se que Frankenstein (1910) estava perdido, como ocorreu com grande parte das produções do período silencioso. Somente nos anos 1970, uma cópia original foi redescoberta na coleção particular do cineasta e colecionador Al Dettlaff, em Wisconsin. A restauração do filme permitiu que estudiosos e fãs do gênero pudessem finalmente observar como a figura do monstro foi concebida nos primórdios do cinema.
Frankenstein (1910) – Curta-Metragem
Hoje, o curta pode ser encontrado em plataformas de vídeo e faz parte de coleções dedicadas à preservação do cinema mudo. Seu valor histórico é inestimável, não apenas por ser a primeira adaptação de Frankenstein, mas por representar um dos primeiros experimentos de narrativa de horror no cinema mundial.
Legado e importância histórica

Mais de um século depois, o Frankenstein de 1910 continua a ser uma peça fundamental para compreender a evolução do horror cinematográfico. Sua abordagem moralista e simbólica, embora distante da visão trágica e existencial do romance original, ajudou a moldar o imaginário popular em torno da figura do “cientista que desafia a criação”.
A redescoberta do filme reforça o papel do cinema silencioso como laboratório criativo de técnicas e narrativas que pavimentaram o caminho para o cinema moderno. E, acima de tudo, lembra que o monstro de Frankenstein — nascido das páginas de Shelley e reimaginado por Edison — continua sendo um dos símbolos mais poderosos da eterna busca humana por ultrapassar os limites da ciência e da própria natureza.
O futuro de Frankenstein no cinema

A figura do monstro continua inspirando novas adaptações. Entre os próximos lançamentos, destacam-se A Noiva!, dirigido por Maggie Gyllenhaal e estrelado por Christian Bale, previsto para 2026, e o aguardado projeto de Guillermo del Toro para a Netflix, que promete uma abordagem mais fiel e sombria do romance de Mary Shelley. Ambos reforçam que, mesmo após mais de 200 anos, Frankenstein permanece mais vivo do que nunca.