
Se perguntassem ao criador do canal Refúgio Cult, Lucas Maia, qual é o filme de terror mais marcante da última década, a resposta viria sem hesitação: A Bruxa (2015), de Robert Eggers.
Lançado oficialmente nos cinemas em 2016, após circular em festivais no ano anterior, o longa celebra agora uma década de existência — e permanece como um dos títulos mais debatidos do terror contemporâneo.
Estreia em longas-metragens do cineasta Robert Eggers, “A Bruxa” dividiu opiniões, mas conquistou um status cult. O filme não apenas revelou o talento singular de Eggers, como também alavancou a carreira de Anya Taylor-Joy (Entre Montanhas), hoje um dos nomes mais requisitados de Hollywood.
Para celebrar esses 10 anos, Lucas Maia preparou uma lista com 10 curiosidades sobre o filme — algumas curiosas, outras realmente assustadoras — que ajudam a entender por que A Bruxa se tornou tão marcante. Confira:
1. O bode era um problema

Black Philip, o icônico bode da história, era interpretado por um animal chamado Charlie, que deu muito trabalho nas filmagens. Segundo Eggers, o bode era imprevisível e até perigoso, especialmente nas cenas com crianças.
Para garantir a segurança, ele era mantido preso com coleiras que foram posteriormente removidas digitalmente. A famosa cena em que ataca o pai da protagonista pode ter sido resultado de uma reação real do animal.
2. Sacrifícios físicos do elenco

Ralph Ineson (Nosferatu) intérprete de William, o patriarca da família, considera o papel o melhor de sua carreira. Para vivê-lo, o ator perdeu 14 quilos, praticando yoga e mantendo uma dieta rigorosa. Ele também cortava lenha nos bastidores, em parte como preparação física e em parte como imersão no personagem.
3. O corvo estava mesmo lá

Uma das cenas mais perturbadoras mostra a mãe de Thomassin acreditando estar amamentando seu bebê, quando na verdade um corvo bicava seu seio. A sequência foi filmada de verdade, sem efeitos digitais. Usando uma prótese no lugar do seio da atriz Kate Dickie, a produção contou com um corvo treinado que acertou a performance em apenas um take.
4. O figurino oculto de Black Philip

Na versão humana e diabólica de Black Philip, o personagem usa um figurino luxuoso, com penas, joias e detalhes em ouro. Apesar de quase não aparecer em tela, o ator Daniel Malik foi vestido com o traje, resultado da obsessão de Eggers com autenticidade. As falas do personagem — sobre manteiga e prazeres terrenos — foram retiradas de textos do século XVII da Nova Inglaterra.
5. Dança inspirada no Japão

A cena final das bruxas levitando é coreografada com base na dança japonesa butoh. Eggers contratou a coreógrafa Denise Fujiwara, especialista no estilo, que ajudou a criar os movimentos estranhos e ritualísticos das bruxas. As comparações visuais com performances autênticas do butoh são visíveis.
6. Por que “The VVitch”?
O título original do filme chama atenção pelo uso do “VV” em vez do “W”. Isso remete à tipografia do século XVII, quando letras mais largas eram comuns nos documentos da Nova Inglaterra. A escolha reforça o compromisso do diretor com a fidelidade histórica — um traço que também aparece na construção de cenários como a cabana da família, toda erguida com materiais e técnicas da época.
7. Orçamento e produção brasileira

Com orçamento de apenas US$ 4 milhões,A Bruxa foi produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira (Ainda Estou Aqui). Inicialmente, Eggers queria filmar na própria Nova Inglaterra, mas os custos o forçaram a rodar no Canadá. Essa decisão viabilizou o projeto, que poderia nunca ter saído do papel se insistissem na locação original.
8. Um arrependimento do diretor

Em entrevistas, Eggers revelou seu maior arrependimento: não ter incluído uma cena que mostrasse um momento de ternura entre Thomasin e sua mãe. Segundo ele, isso teria intensificado a ruptura emocional no final do filme. Apesar da ausência, o relacionamento entre as duas permanece um dos eixos centrais da narrativa.
9. Um erro que virou estilo

Aos 1h11min53s de filme, há um erro técnico: a câmera desfoca por alguns segundos. O operador achou que seria demitido, mas Eggers gostou do resultado e decidiu manter a cena. Para ele, o defeito acabou contribuindo com a estética do filme.

Apesar de ser aclamado, A Bruxa é o filme menos querido por seu criador. Eggers afirma que não suporta revê-lo, pois acredita que sua inexperiência à época comprometeu a execução de suas ideias. “Eu não era habilidoso o suficiente para transformar o que estava na minha cabeça em algo mais impactante na tela”, declarou.
Mesmo com as críticas do próprio diretor, A Bruxa é amplamente considerada uma obra-prima do terror moderno — e talvez justamente por sua crueza, rigor histórico e atmosfera sufocante. O tempo parece só reforçar seu lugar na história do cinema de gênero.
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